Os Incompreendidos [texto de 2020]

Os Incompreendidos (1959) - François Truffaut.



  A primeira aventura de Antoine Doinel, alter ego de Truffaut.
  
  Com cerca de 14 anos, o protagonista problemático precisa lidar com todas as questões e crises adolescentes que andam a atormentá-lo durante os dias: confusões na escola, notas baixas, desentendimentos com os pais, e ainda, conflitos com a polícia e sociedade.

  Decidi refletir um pouco sobre o crescimento do indivíduo na sociedade, seu desenvolvimento e questões. O termo ''adolescência'' como conhecemos hoje é algo muito recente e
foi tomando novos significados com o passar do tempo, diversos fatores influenciam nesse processo de crescimento do indivíduo dentro de um grupo social. Cultura, época, estrutura econômica e familiar são alguns pontos.

- Contém alguns spoilers -

  A família é o nosso primeiro contato com outros indivíduo, uma pequena sociedade. As primeiras referências começam aí, tal como moral, ética, valores, costumes, cultura etc. Antoine nuca teve uma relação estável com a família (principalmente com sua mãe), então, ser visto como um estorvo neste primeiro núcleo social faz com que a visão amplie-se para a ''sociedade real''. Daí surgem os demais conflitos fora de casa.

  Qual seria a nossa visão de ''certo e errado'' se não tivéssemos contato com nada disso antes de estarmos numa sociedade maior? Ou, qual seria sua perspectiva de vida, objetivos, crenças etc se sua família fosse outra?

  A escola era um ambiente opressivo e agressivo, por isso acontecia muita rebeldia, insegurança e desconfiança por parte dos alunos. Como se sentir confortável em um lugar que obriga e grita o tempo todo?
Nossa personalidade está em constante mudança, ela não é algo absoluto e imutável, mas o ambiente contribui para que tracemos nossas primeiras características.

  Sem esse apoio durante os anos, e ainda mais na adolescência, Antoine torna-se quase blasè aos acontecimentos. Menos ao mar.
Na última cena acompanhamos sua fuga do reformatório e corrida, até chegar em uma praia. Ele conseguiu desfrutar de um desejo que tinha.
Doinel olha para a câmera, e quase é possível ler em seus olhos um ''e agora?''. Sim, estamos todos sozinhos, de uma forma ou de outra.
O ser humano, quando jovem, vive correndo e buscando algo. buscamos coisas para deixar a existência menos tediosa e, quiçá, insignificante,(ou para criarmos essa ilusão), corremos para realizar sonhos, objetivos, conhecer coisa, pessoas, experiências, sensações novas etc. Corremos tanto, e muitas vezem sem saber para onde (ou sem ter um porquê). 
  
Mas isso é só mais um pedacinho da vida, eu acho.
Nem tudo é sobre o mar.

(Artigo de apoio: A Importância da Família na Formação Social do Adolescente, Vivian Freitas Oliviéri Ferronatoa. Faculdade Anhanguera de Pirassununga, Curso de Pós-Graduação em Serviço Social e Gestão de Projetos Sociais, SP, Brasil.)

Escrito em 28/12/2020

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