Thanatomorphose e a depressão [texto de 2021]
Thanatomorphose (2012) - Éric Falardeau
A premissa dessa delícia é a seguinte: Laura vive sozinha em seu apartamento e aos poucos, vai descobrindo que algo não está certo com seu corpo, pois o mesmo está apodrecendo de dentro para fora.
-FILME NÃO RECOMENDADO PARA PESSOAS COM MENOS DE 18 ANOS (e se você é maior de idade, pesquise antes de assistí-lo)-
"'Thanatomorphose' é um substantivo francês que significa 'sinais visíveis da decomposição de um organismo, causada pela morte.'"
Mais que um body horror, o filme em questão serve como uma boa reflexão. Principalmente sobre uma doença: depressão. A analogia funciona muito bem e utiliza uma outra maneira de nos contar sobre a enfermidade: abusando de artifícios visuais e literais sobre o "estar morrendo".
Quem possui a doença, provavelmente irá assimilar com muita facilidade os sentimentos de Laura com os próprios, e quem não a possui, pode criar uma ideia da sensação que a depressão traz de "decomposição" em seus estágios mais graves.
Laura tem um ar blasè, frio e mórbido. As relações sociais não fazem mais sentido, os amigos não lhe empolgam, o apartamento é solitário e as relações "amorosas" são resumidas apenas em sexo, sem nenhum tipo de afeto. A rachadura no teto de seu quarto é um espelho de si, o ambiente faz parte dela e o apartamento vai se degradando junto de sua carne.
O namorado se importa apenas com seu corpo (quando belo e "conservado"), o amigo (também com interesses puramente sexuais) aproveita de seu físico sem grande comoção e vai embora. Mesmo sabendo e percebendo que algo não está bem, deixando ela sozinha no chão.
Sempre foi muito mais confortável lidar apenas com o físico bonito e fingir que nada mais acontece por dentro.
Laura não sentia mais nada, a arte não surtia mais enfeito, não tinha sentido e estava apenas como um artifício de salvação sem êxito. A arte é um reflexo de nós, e quando não sentimos nada, ela passa a não ter porquê. Conforme ela ia (literalmente) se perdendo, agia como se fosse pouca coisa, talvez por costume; é realmente difícil procurar ajuda e se olhar no espelho pra enxergar tudo que há de errado. Tentar conservar pequenas partes boas não basta.
Para Laura, parecia ser impossível ser amada enquanto ela estava em pedaços, enquanto ia, literalmente, se desfazendo.
As coisas começam a se perder aos poucos, com pequenos acontecimentos (uma unha, fios de cabelo, hematomas), mas não tarda a ficar pior.
E se estamos vivos, por mais que o externo não esteja nas melhores condições, há vida.
Eita, quanto tempo sem aparecer aqui, mas bora começar com dois pés no estômago. Hehe.
A premissa dessa delícia é a seguinte: Laura vive sozinha em seu apartamento e aos poucos, vai descobrindo que algo não está certo com seu corpo, pois o mesmo está apodrecendo de dentro para fora.
-FILME NÃO RECOMENDADO PARA PESSOAS COM MENOS DE 18 ANOS (e se você é maior de idade, pesquise antes de assistí-lo)-
"'Thanatomorphose' é um substantivo francês que significa 'sinais visíveis da decomposição de um organismo, causada pela morte.'"
Mais que um body horror, o filme em questão serve como uma boa reflexão. Principalmente sobre uma doença: depressão. A analogia funciona muito bem e utiliza uma outra maneira de nos contar sobre a enfermidade: abusando de artifícios visuais e literais sobre o "estar morrendo".
Quem possui a doença, provavelmente irá assimilar com muita facilidade os sentimentos de Laura com os próprios, e quem não a possui, pode criar uma ideia da sensação que a depressão traz de "decomposição" em seus estágios mais graves.
Laura tem um ar blasè, frio e mórbido. As relações sociais não fazem mais sentido, os amigos não lhe empolgam, o apartamento é solitário e as relações "amorosas" são resumidas apenas em sexo, sem nenhum tipo de afeto. A rachadura no teto de seu quarto é um espelho de si, o ambiente faz parte dela e o apartamento vai se degradando junto de sua carne.
O namorado se importa apenas com seu corpo (quando belo e "conservado"), o amigo (também com interesses puramente sexuais) aproveita de seu físico sem grande comoção e vai embora. Mesmo sabendo e percebendo que algo não está bem, deixando ela sozinha no chão.
Sempre foi muito mais confortável lidar apenas com o físico bonito e fingir que nada mais acontece por dentro.
Laura não sentia mais nada, a arte não surtia mais enfeito, não tinha sentido e estava apenas como um artifício de salvação sem êxito. A arte é um reflexo de nós, e quando não sentimos nada, ela passa a não ter porquê. Conforme ela ia (literalmente) se perdendo, agia como se fosse pouca coisa, talvez por costume; é realmente difícil procurar ajuda e se olhar no espelho pra enxergar tudo que há de errado. Tentar conservar pequenas partes boas não basta.
Para Laura, parecia ser impossível ser amada enquanto ela estava em pedaços, enquanto ia, literalmente, se desfazendo.
O namorado e o amigo agiram de forma evasiva ao ver seu estado absolutamente deplorável; contrário de quando ela estava em "perfeitas condições físicas".
É fácil estar com alguém quando nada nos afeta, quando tudo está aparentemente bem e "limpo", mas e quando tudo está um caos?
As coisas começam a se perder aos poucos, com pequenos acontecimentos (uma unha, fios de cabelo, hematomas), mas não tarda a ficar pior.
Precisamos estar em constante estado de alerta e cuidado para não derretermos em completa solidão.
Além disso, procurar ajuda e não tapar feridas com pedacinhos de pano, porque elas pioram.
E se estamos vivos, por mais que o externo não esteja nas melhores condições, há vida.
Há sempre como tentar, mesmo que um pouquinho de cada vez.
[Escrito em 11/08/2021]
Comentários
Postar um comentário
Seja gentil e educado!